Escrita, Zhang Ziaogang, 2005
Minha
primeira paixão? Pateta (o amigo do Mickey). Em seguida encontrei
Cavaleiro Negro, Zorro, Jerry Lewis, Elvis Presley… Cinema e
quadrinhos, quadrinhos e cinema… amor à primeira olhada num tempo
de descoberta da palavra escrita e da projeção anímica.
Um
dia li um livro do Monteiro Lobato (não lembro o título), e uma
passagem me chamou atenção: um aparelho nos fazia viajar à pré
história da humanidade. Explodiu minha cabeça… Mal sabia que,
adiante, conheceria a televisão: profético!
Nos
anos 60, época do ginásio, tive um professor de português que me
mostrou o porquê participar de protestos e passeatas… entendi o
afeto que nutri por ele quando mais tarde encontrei Robin Williams na
Sociedade dos Poetas Mortos.
Clint
Eastwood tornou-se o durão mais amável quando me apresentou Os
Imperdoáveis. Também me cativaram, pelo charmoso modelo de
masculinidade, Marcello Mastroianni, Marlon Brando, Al Pacino, Robert
De Niro… Todos melhores amigos de qualquer adolescente que deseja
ser amado por todas as mulheres do mundo.
Não
me peçam explicações, mas nunca gostei do Superman, Batman ou
qualquer outro super-herói. É que sempre acreditei mais no possível
que no improvável. Talvez por isto, a figura religiosa de Deus nunca
tenha sido objeto das minhas preocupações, embora tenha, na
infância, servido à Igreja na posição de coroinha (logo repugnado
pela aspereza da barba do sacristão e os charutos fedorentos do
senhor bispo), mas descobri que os autoproclamados representantes da
divindade, jamais correspondem àquilo que colocam na boca do seu
deus, mas como são os únicos que falam Dele, acaba que o Todo
Poderoso termina com a moral mais suja que pau de galinheiro.
Mas
amei muitos semideuses, principalmente quando me foram apresentados
pelo carinho do professor Junito Brandão em suas histórias
assombrosamente vibrantes de seres inaugurais e mitológicos.
O
professor Joseph Campbell me desvendou As Máscaras de Deus e com ele
percebi a mecânica que movimenta esta criação ardilosamente
humana.
Isaac
Asimov me fez entender, com A Última Pergunta, que amar é sobretudo
conhecer.
Borges
e suas Ficções foi amor da primeira linha à última linha; As
Cidades Invisíveis fizeram tanto carinho na minha alma que ainda
hoje penso em sair de porta em porta a perguntar podem dedicar um
instante para ouvir a palavra do Ítalo Calvino.
Reservo
um cantinho secreto do meu ser para o Pessoa, quase um heterônimo de
mim mesmo.
Graciliano
Ramos foi outro que, com suas Vidas Secas, São Bernardo, Histórias
de Alexandre e A Terra dos Meninos Pelados, não me deixou
alternativa senão amá-lo.
Em
meio a tantos implacáveis fuderosos fodásticos
narradores
da fantástica
vida real – Shakespeare, Amado, Garcia Marques… é
em
Machado de Assis que
me encontro,
certo
de estar, na
companhia de alguém que sente e conhece a
verdadeira, bela e contraditória experiência humana.