sábado, 21 de setembro de 2024

ensaio de amor

 

Até a próxima, Remédios Varo, 1958


o amor é que nem felicidade

ocorre por instantes…

 

me desespere o dia inteiro, baby

a veneta ondula em mim


se amar é sentir saudade

(nem pense em programar o fado)

haverá hora que diremos um ao outro

grato, pelo amor, meu amor

pelas nossas minúsculas eternidades...

 

e na despedida

riremos de toda imprudência impaciente


se amar é ser inédito

original

a canção marinheira

essa ressaca

é súbita festa vinda



sábado, 14 de setembro de 2024

e a gente espera o ônibus

 

Subjetividade Enlatada, Mobilitas, 2018



e a gente espera o ônibus...

em geral já vem lotado

mas gente se espreme

e faz de conta

que a roçada de corpos

(perfumes e suor misturados)

é natural… desculpa aí

se te encoxo

ou vice e versa… epa: olha,

o código penal tá de olho

opa! licença aê… perdão

foi sem querer a esfregada

desconta no desengonço do ônibus

ah, essas freadas bruscas…

disfarça, foi mero acidente

meu olho encontrar o teu

... sigamos

costumeiros e estranhos

de ponto em ponto

à espera do final


 

sábado, 7 de setembro de 2024

tristeza

 

Tristeza, Ema Mazánková, 2019


você é triste de que jeito?

escondido, na solidão das penas,

ou, rançoso, afogas mágoas

num copo, num prato, num coito?


qual o tamanho da tua tristeza:

te faz abraçar o mundo, compassivo

ou a autopiedade te amiúda em ais

e te leva à ira mas à poesia jamais?


o quanto permites te manipule,

te engane, a tristeza,

esse fado que acolhes?


se dor é fingir que é dor

a dor que deveras sentes…

que o teu amargor tal sina 

não ouse te fazer de besta