Man in a Chair, Francis Bacon, 1952
“Ora
bolas, não me amole
O
que eu quero? Sossego!”
Tim
Maia
Nasci,
cresci, me desenvolvi e creio que vou morrer num ambiente altamente
tóxico – neurótico de nascença.
Senão
vejamos: dos 17 aos 60 anos trabalhei, em média, 9 horas por dia,
passava cerca de 2 horas dentro de um transporte coletivo e todo
mundo achava normal chegar em casa, morto de cansado, jantar qualquer
porcaria ou restos do dia anterior, porque não havia tempo, dinheiro
ou disposição pra fazer algo melhor e ter como perspectiva cochilar
diante da televisão, garrar num sono desgrenhado e ser chutado da
cama pelo despertador para repetir a dose na manhã seguinte, como se
não houvesse amanhã, porque a jornada devia ser cumprida chovesse
ou fizesse sol.
Hoje,
aposentado, mal consigo dar dois passos sem que me doam todas as
fibras nervosas do meu esculhambado corpo, enxergo que os mesmos que
aplaudiam minha diligência em ser um cidadão exemplar, ordeiro e
trabalhador dos 17 aos 60, agora vivem a me encher o saco com
exortações apocalípticas para que obedeça orientações médicas,
nutricionais e faça exercícios regulares porque só assim poderei
curtir e aproveitar o melhor da melhor idade e, principalmente,
evitar onerar ainda mais o SUS em busca de cuidados
médico-hospitalares.
Vocês
me digam, caso sejam nativos dalgum planeta fora deste sistema
planetário onde as leis físicas me obrigam a não ter qualquer
esperança além de ser tragado por um buraco negro ou sofrer as
consequências da explosão do nosso sol: é ou não é motivo
bastante para que eu procure a primeira igreja evangélica e compre,
em suaves prestações, um lugarzinho no céu e aguarde o
arrebatamento em pleno carnaval em Salvador?
Conclusão:
sem
pressa, vou
deixar rolar a filosofia do the
end:
viver
cada
instante
como se fosse último – óbvio
que fazendo
de um tudo para não atrapalhar o tráfego (tal
qual na profecia chicobuarqueana),
afinal,
sei
lá, mesmo
sem entender patavina de física,
sociologia ou
literatura,
penso
que já
sei
bem onde sinto
cócegas, arrepios de tesão e, fundamentalmente, onde me
dói o
calo.