sábado, 21 de outubro de 2023

embalo do mar

 

Aquarela, Kazuo Nakamura, 1953



a vida é boa

panquecas de carne

no forno

me esperam

(as duas marias

e suas quentinhas

salvam o dia)


entre um gole e outro

navego ardente

o sol na cabeça

prosa e poesia

nas ondas do mar…


e a perspectiva de ver meu amor


quietinha segunda-feira

boa é a vida

gostosa e bela

nos embalos do mar



sábado, 14 de outubro de 2023

Quadrinhas

 

Squares with Concentric Circles, Wassily Kandinsky, 1913



I

Pai e mãe não se muda

Tios e primos não decidi

Nesta vida, deus nos acuda!,

Amigos são parentes que escolhi


II

Desvendará minh’alma um dia

Teu mistério, essa lindeza

No cantar desta voz vadia

Acontecerá mais beleza


III

Impossível falar de religião

Com quem é feliz na desdita

O milagre desvê em negação

Fantasia é pra quem acredita


IV

Para além da forma aparente

Na semelhança somos uno

Partilhamos da mesma mente

Que adora avacalhar o mundo


 

sábado, 7 de outubro de 2023

pode ser?

 

Acima da Cidade, Marc Chagall, 1918



hoje, a cidade amanheceu calma:

maré baixa, piscinas cristalinas

peixinhos, pedras e ouriços…

não ouvi sirenes

a anunciarem desconfortos e desgraças


aproveitei pra sonhar

o que mais quero neste intervalo:

te amar diante da janela

ao som inexorável do martelete buf buf

no concreto da casa ao lado

a pontuar o tesão e as batidas

dos nossos doloridos corações


vem, amor

que não há quem nos proteja

de tamanho caos


morramos soterrados pelo engenho

dos fabrishomens barulhentos

e ressuscitemos no silêncio inventado,

momentâneo

de nossas almas saciadas

alheios à cidade,

ao desejo e aos aplausos


vem amor,

que este tantinho de generosidade

faz a desdita nos esquecer…


vem, que deslembro das queixas

dos remorsos, segredos, mimos, dengos

calundus, manhas e caprichos -

trejeitos que herdei do meu pai

(fraco, topado de orgulho)

sempre pronto a revidar… vem, amor

amanhã pode não ser