Acima da Cidade, Marc Chagall, 1918
hoje,
a cidade amanheceu calma:
maré
baixa, piscinas cristalinas
peixinhos,
pedras e ouriços…
não
ouvi sirenes
a
anunciarem desconfortos e desgraças
aproveitei
pra sonhar
o
que mais quero neste intervalo:
te
amar diante da janela
ao
som inexorável do martelete buf buf
no
concreto da casa ao lado
a
pontuar o tesão e as batidas
dos
nossos doloridos corações
vem,
amor
que
não há quem nos proteja
de
tamanho caos
morramos
soterrados pelo engenho
dos
fabrishomens barulhentos
e
ressuscitemos no silêncio
inventado,
momentâneo
de
nossas almas saciadas
alheios
à cidade,
ao
desejo e aos aplausos
vem
amor,
que
este tantinho de generosidade
faz
a desdita nos esquecer…
vem,
que deslembro das queixas
dos
remorsos, segredos, mimos, dengos
calundus,
manhas e caprichos -
trejeitos
que herdei do meu pai
(fraco,
topado de orgulho)
sempre
pronto a revidar… vem, amor
amanhã pode não ser