sábado, 30 de setembro de 2023

ah, o amor

 

Amor e Psiquê, Henryk Siemiradzki, 1894



ah, o amor

cantado, sonhado, adorado

por nós, comuns


(amor é redenção

cremos em sua religião)


foi uma vez, poeta

que o amor me conheceu

viciado ardeu e se queimou

gastou consumido

seus sentimentos

na busca da porção, última dose

e sumiu na chama breve

da sombra fria

que lhe aquece o mistério

de não aceitar objeção


ai amor,

choro pelos tolos

que passam os seus dias

a fazer amor, jamais amando


 

sábado, 23 de setembro de 2023

bonito é nascer

 

Sol Nascente, Anton Prinner, 1944



luzes na cidade

transição: meia-noite

dois mundos em fricção


mortiços olhos buscam

o horizonte desde cá

coroado de ausências


pular a janela

correr rua afora

incomodar o silêncio…


distante o grito

tudo é vazio

tudo é lugar…


daí o retorno

cicatriz adoçada

eterna no punho


começar de novo

livre é a dor

e a graça do poema


meia-noite:

cidade acesa

tão bonito nascer


 

sábado, 16 de setembro de 2023

sempre indo

 

Onde Ir, Alberto Sughi, 1992



todos foram embora
restaram os fantasmas…
e eu
tenho dispensado companhia 

falta vontade
de olhar as frestas,
as réstias
as sombras e os contrastes 

nunca fiz piada de mim mesmo
levo a sério decifrar poemas,
eu, esse rascunho 

todos foram embora… 

o protocolar “como vai”
me desgosta
como?
se sempre vou indo