sábado, 16 de setembro de 2023

sempre indo

 

Onde Ir, Alberto Sughi, 1992



todos foram embora
restaram os fantasmas…
e eu
tenho dispensado companhia 

falta vontade
de olhar as frestas,
as réstias
as sombras e os contrastes 

nunca fiz piada de mim mesmo
levo a sério decifrar poemas,
eu, esse rascunho 

todos foram embora… 

o protocolar “como vai”
me desgosta
como?
se sempre vou indo


 


 

sábado, 9 de setembro de 2023

gula

 

 


Êxtase, Lajos Gulácsy, 1908



deus meu, acorde os orixás:
que vejam o corpo lindo do meu amor
e sintam seu cheiro doce
tal qual doce de batata doce
e abençoem
o corpo do meu amor
essa mesa farta, epifânica
ora, romeu e julieta
ora, queijo de coalho com carne de sol
cuscuz com ovos mexidos
sarapatel, baião de dois,
fritada de siri, galinha de cabidela,
café com leite e mel
acarajé, abará, caruru, vatapá e caldo verde
mousse de maracujá, suco de graviola, cajá
laranja, manga, caju e jambo
licor de jenipapo, capuccino com amarula
e muita música brega após às 10 da noite...
e abençoem também o sono das crianças
para que nós, em ritual
morramos e ressuscitemos
antes que a fome
mais um dia
nos acorde


 

sábado, 2 de setembro de 2023

a pedra de tropeço


 

Objeto, Branca Escobar e Liliam Mendes, 2016




meu personagem poético
(tão distraído quanto eu)
andava feliz
até encontrar a pedra... e o reclame

no meio do caminho,
em busca de atualizar minhas dores,
tropeço agora num outdoor:
mertiolate ardia, hoje cura