No começo só havia energia vagando na escuridão do espaço infinito.
Então, veio a luz e dela surgiram o Pai Céu e a Mãe Terra.
Céu e Terra tiveram muitos filhos, dentre eles a Água, o Vento, a Guerra e também Nada - coisa nenhuma.
Pai e Mãe viviam num perpétuo abraço de amantes.
Acontece que esse enlace apaixonado não deixava a luz penetrar entre seus corpos, onde ficavam os filhos.
Obrigados a viver apertados e sempre no escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação.
– Vamos matar Céu e Terra – disse Guerra. - Não! gritou Floresta. – Vamos apenas separá-los, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar.
Todos acharam a ideia excelente.
Floresta, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés na Terra e encaixou os ombros no Céu e o empurrou para cima com toda a força.
Os pais se separaram. Mas que decepção! Só um pouco de luz alcançou os filhos. Além disso, Céu e Terra estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio.
Comovido com a situação, Floresta cobriu o pai com o manto negro da noite e para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela Água fez ondular os mares e os rios e Vento soprou uma brisa nos cabelos da mãe para alegrá-la. Só Guerra não ajudou, porque, nesta hora, estava criando os seres humanos para tomar conta do mundo.
Olhando lá de cima os lindos trajes da amada, Céu ficou doente de inveja e sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta.
Refugiado numa dobra do manto paterno, Nada chorava e chorava por não ter sido útil aos pais e aos irmãos.
Para que ninguém percebesse suas lágrimas, as escondia em cestas e mais cestas. Mas Floresta tudo percebera.
- Zero, meu irmão, preciso de sua ajuda.
– Nada tenho para dar, você bem sabe.
– Ora, você tem tantas cestas…
Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Nada abaixou a cabeça, envergonhado.
Floresta avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados.
As lágrimas de Nada haviam se transformado em crianças-luz - as estrelas.
– Nada, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhinhos poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai.
Nada concordou e colocou as duas cestas dentro de uma canoa.
Floresta a conduziu até alcançar o Céu e espalhar sobre seu manto milhares de estrelinhas que riem e piscam umas para as outras o tempo todo.
Quando Floresta ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem.
E foi assim que se formou a Via Láctea.
Da canoa que Floresta deixou no espaço celeste nasceram os guardiões das estrelas - as constelações.
Adaptação de lenda Maori