sei de mim
gambiarra
eu vou
com jeitinho
deu-me gana de buscar
me afidalgar
embranquecer
mas a minha genealogia
não chama atenção
dos bardos
por ser vulgar
fiquei o que sou
agarrado à margem
normal
que deus jamais
torre o meu saco
sei de mim
gambiarra
eu vou
com jeitinho
deu-me gana de buscar
me afidalgar
embranquecer
mas a minha genealogia
não chama atenção
dos bardos
por ser vulgar
fiquei o que sou
agarrado à margem
normal
que deus jamais
torre o meu saco
– que dia lindo!
o relógio do juízo final
marca 00:01:30
para o fim do mundo
– vou à luta!
ônibus lotado
salário de merda
desastres naturais
burocracia
assaltos
golpes na internet
sacanagens
pornografia
e eu nadica de nada
enquanto pastores… contudo
ó deus, repartido em postas,
qual a lógica dos juros nas alturas?
de volta ao meu aconchego
morrer, dormir e talvez sonhar...
Cid Gomes estava certo? Na época, disseram que ele iniciara o enfrentamento das milícias e coisa e tal.
O contingente policial militar cearense, de armas em punho, misturados a milicianos (e quem sabe talvez até com facções criminosas), a partir de um comportamento tipicamente fascista, decretam o fechamento da sociedade, ameaçaram cidadãos, roubaram veículos públicos, furaram pneus de viaturas e motos de patrulha… Tudo em nome de suas reivindicações salariais. Não foi uma greve, foi motim. Que mais reivindicava um militar que ganhava, em fevereiro de 2020, no posto de soldado, 3.700 reais mensais?
(Para que possam sentir o drama… um professor cearense ganhava, em início de carreira, 1.587 reais por mês enquanto o trabalhador médio na terra de Alencar e sua musa Iracema, recebia algo em torno de 1.400 reais mensais).
Policiais militares no Brasil jamais ficaram ou ficam do lado certo das coisas. A “formação” desses caras não permite isto. Afinal, são treinados para acumular o máximo de raiva, insensibilidade, incivilidade e depois soltos na rua, armados até os dentes, para decantar, em qualquer um que se lhes atravesse o caminho, o ódio em que foram doutrinados. Passam por um treinamento de guerra cujo inimigo somos nós, os cidadãos comuns que, teoricamente, juram todo dia proteger. É assim no Ceará, no Rio, no Rio Grande do Sul, em São Paulo…
(Ah, São Paulo, tu que inventaste a fórmula combater o bom combate não vê que os teus gestores permitem que policiais invadam escolas e surrem alunos como se estivessem numa sala de tortura do famigerado DEOPS, simplesmente porque a lei foi desrespeitada).
Não é do feitio da polícia investigar: polícia simplesmente condena e pune. O Judge Dredd, filme com Silvestre Stallone, inspira mais esses indivíduos que a nossa Carta Magna e todos os tratados de Ética. Eis o mais terrível entulho herdado do nosso passado escravocrata que foi queimado mas permanece mais vivo que nunca, positivo e operante, solto na pirambeira, descendo o cacete, humilhando e matando.
Algum dia teremos uma polícia de verdade, atuando na causa cidadã e não agindo tal qual gangues de jagunços fardados?
O Cid Gomes se enganchou numa retroescavadeira, derrubou o portão de um batalhão e acabou levando dois tiros, mas isto não resultou numa revolução, como disseram muitas vozes na ocasião. De lá pra cá tudo continua como dantes no quartel de abrantes. A tormenta passou, mas não se viu nenhuma palha sendo levantada no sentido de mudar o sistema como se faz segurança pública no Brasil. Cadê os sujeitos arretados para colocar na pauta a extinção das polícias militares?
O grupelho fascista, desafeto mor da cidadania, foi apeado do poder, mas tal qual o neoliberalismo econômico praticado por nossa autoridade monetária atual, as cabeças da Hidra continuam serelepes e os progressistas ainda não aprenderam a queimar as cabeças dessa quimera.