paladar:
fale a verdade, sempre
– recheada com poesia,
mas não pese a mão nos temperos
para não envenenar o liberto!
paladar:
fale a verdade, sempre
– recheada com poesia,
mas não pese a mão nos temperos
para não envenenar o liberto!
A exemplo de Machado e Graciliano: um general, habituado a falar para as paredes (mesmo quando se encontra entre pariceiros), autoproclamado tutor da nacionalidade por osmose, imerso em dúvida categórica, pontua suas parcas e solipsistas memórias.
Assaltado por um e outro choque de realidade, choraminga afogado em autopiedade: ninguém o entende, ninguém o obedece, ninguém o ama, ninguém o quer.
Sob o olhar seguidor de cópia sfumatada da sua mãezinha – vítima do pai e algoz dos servos e servas, procura inimigos debaixo da cama enquanto exercita seus soldadinhos de plásticos em custosas simulações de guerra. Infelizmente, suas suadas, gloriosas e imaginárias vitórias, ao fim e ao cabo, não lhe trazem qualquer conforto, alegria ou proveito - daí seu estado danado.
A boca solta, navega a aposta de que acabe por dar entrada nalguma instituição psiquiátrica ou venha a cometer suicídio – afinal daquele mato, ou melhor, daquele quepe todo coelho sedento de sangue alheio é possível.
A maldição positivista que passa pano para o compadrio que assola e atormenta o mundo à volta, torna-se responsável pelo expurgo do horizonte futuro daquela casa portuguesa (com certeza) de acordo com o duvidoso brasão que orna o frontispício da reclusa morada situada no fim da rua de cima, à beira do precipício.
Um dia, num gesto imprevisto da sorte, trupica e cai sobre uma pedra angular. Desgraçado, tem o crânio afundado em postas. A perícia atesta, de pé junto, que não há nenhum vestígio de humanidade na cena do crime.
De acordo com desejo expresso em testamento, o velório é dispensado. Manifestado temor ao fogo, o corpo é sepultado numa cova rasa e anônima - sem choro nem vela ou qualquer marcação.
Após três anos, agora sob o seu próprio e sfumatado olhar impiedoso, num quadro 60x40, realizado por uma pintora autodidata ávida de reconhecimento, os restos mortais, secretamente, foram transportados, numa urna à prova de hackers, para a ilha dos esquecidos e ninguém nunca mais tocou no assunto.
O saldo restante é que, no orçamento da nação, sem que nenhum contator se dê conta, consta o officium obligatio de pagar soldo à filha estéril por toda a eternidade. Com base nisto, dizem os mais secretos pensamentos, dos mais recônditos e miseráveis indivíduos, que a manjada e deslembrada virgem viúva tem por hábito devorar a cabeça de qualquer um que ouse dar uma olhada na sua face oculta.
o que é a chuva?
– lágrimas, suor ou mijo de deus
o que é o meu?
– aquilo que sobra depois que todo mundo escolheu
o que é a palavra?
– é o bafo que sai da boca de quem bufa
o que é o fácil?
– aquilo que ninguém tá nem aí, coisa sem valor…
se assemelha ao simples: que todo mundo despreza