Noemi
mesmo sem tempo,
(tinha que chegar na hora no trabalho)
todo dia, esbaforida
dava uma geral na casa
pensando numa possível noitada
com aquele colega de departamento
aquele tal do peitoral sexy
e promessa gostosa
de um prazer para além de todo sexo…
mas o que ela não pensava
é que não adianta
deixar a casa um brinco
se o mundo continua lixo
Noemi
de quantos e tais detalhes
cansada, acenava ao coletivo
e lá ia, encoxada, bolinada,
indiferente a tudo (menos ao nojo
e ao colega de departamento
a lhe atazanar os sentidos…)
no dia que encontrou coragem
o convidou para um café
mas ele a empurrou contra o portão
suspirou “ahhhh…”, a sufocar seu silêncio
num gozo alheio e
com a calça encharcada de gala,
se mandou pela rua afora
sem nem ao menos perguntar:
“foi bom pra ti?”
Noemi
ao devolver um dos seios para dentro da blusa
ergueu os olhos para o céu estrelado
ao tempo em que sentiu os pés
sobre o indiferente asfalto,
sussurrou para o vazio,
como se estivesse diante de um espelho estilhaçado:
– quem, diabos, inventou o sexo?
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