hoje, ah hoje…
nem bem acordo o celular dispara
a promoção do dia, o desastre
a falcatrua, a mentira
o imbróglio político, o escândalo
o joguinho que interrompi ontem…
frequência cardíaca a mil,
glicose no teto, bolsa cai…
funerária boa viagem fez uma ligação perdida, ah!
antes que’u esquente ovos pro desjejum
a ia me avisa da teleconsulta
para implorar cardio que
avalie o risco cirúrgico
de uma inevitável remoção de catarata…
em meio a tal burocracia me assalta um pensamento:
pobre burro num corre insano
através de florestas em chamas, terremotos
tartarugas engasgadas com canudinhos de plástico
tô nem aí e améns
a fugir de tigres e tubarões famintos mas
ainda vivo e a ver o burro, zurro e açoito:
no dia derradeiro finda o poema,
a não ser que alguém decida repetir
ou dar continuidade ao verso
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