sábado, 15 de fevereiro de 2025

ódio

 

Woman with Revolver, Alex Colville, 1987



o ódio tem nome, sobrenome,

selo, brasão e armas…

endereço gravado em mármore

altas portas de excêntricos adornos

cercas pontiagudas e elétricas

protetoras de cifras e sombras espertas.


frágil, humano, simples em essência,

o ódio é um corpo armado e nu

a erguer aos ventos ordinários altares

e engendrar deuses

no espelho estilhaçado do mundo

para negociar a extinção do próprio abismo.


o ódio leva as crianças à disney todo ano

frequenta culto aos domingos

faz dedutíveis doações

e sonega convicto

qualquer solidariedade

que não lhe renda fama e fortuna…

porém, em surto contínuo e calculado

propaga, desesperado

que seu direito de odiar é censurado

pelo jugo cruel da inveja opressora

negadora do mérito empreendedor

do trabalho que liberta


(eis um duelo narcísico ao pôr do sol:

o ódio exige reparo às próprias ofensas

infringidas pelo egoísmo na crença

da imagem e semelhança infalíveis…)


esquecido do abismo da dívida pública,

da sangrenta desigualdade que consome

a mínima justiça,

o ódio constrói muros,

atiça o fogo

sibila, voa

e normal ecoa

nos corriqueiros olhos

da vergonha e desgraça alheias.



 

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