o ódio tem nome, sobrenome,
selo, brasão e armas…
endereço gravado em mármore
altas portas de excêntricos adornos
cercas pontiagudas e elétricas
protetoras de cifras e sombras espertas.
frágil, humano, simples em essência,
o ódio é um corpo armado e nu
a erguer aos ventos ordinários altares
e engendrar deuses
no espelho estilhaçado do mundo
para negociar a extinção do próprio abismo.
o ódio leva as crianças à disney todo ano
frequenta culto aos domingos
faz dedutíveis doações
e sonega convicto
qualquer solidariedade
que não lhe renda fama e fortuna…
porém, em surto contínuo e calculado
propaga, desesperado
que seu direito de odiar é censurado
pelo jugo cruel da inveja opressora
negadora do mérito empreendedor
do trabalho que liberta
(eis um duelo narcísico ao pôr do sol:
o ódio exige reparo às próprias ofensas
infringidas pelo egoísmo na crença
da imagem e semelhança infalíveis…)
esquecido do abismo da dívida pública,
da sangrenta desigualdade que consome
a mínima justiça,
o ódio constrói muros,
atiça o fogo
sibila, voa
e normal ecoa
nos corriqueiros olhos
da vergonha e desgraça alheias.
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