a muito tempo atrás
(quando os pulmões do mundo
respiravam o ar estreito da juventude
e os meus colegas de colégio pareciam
teimosos pássaros a sobrevoarem um tempo
cheios de asas de alegria, entusiasmo -
tirando o pior que rugia lá fora -
esperanças, bonitezas e perspectivas)
eu acordava, corria pro banho,
sob luz fria da madrugada,
escovar os dentes, tomar banho
e voltar correndo
pra escolher a roupa cansada de todo dia,
tomar café com leite, pão e manteiga
crente no ônibus pontual
que me levaria para 9 horas de trabalho
de segunda a sexta-feira…
(às vezes aos sábados ou domingos
meu chefe nos convocava pro balanço
e lá íamos engaiolados, na kombi da firma,
contabilizar os detalhes e sobras
da velha fábrica de percaline…)
ó tempo que não passava!
pois nada sabia, apenas intuía
o anormal que me acostumara
às ordens imperiosas da mãe-pátria,
a quem eu devia amar ou deixar,
(obedecer era tudo!)
e lá ia com fome, com sono
esperar o carnaval chegar,
cumprir a regra geral…
e até casei, de papel passado,
com o lar doce lar
e fui dormir no cabaré
à procura daquele amor
que tatuou cicatrizes em minh’alma
e apertou minha mão no velho cinema
diante das imagens do príncipe valente…
mas quem era eu pra sustentar
aquela mulher da vida, zélia linda,
última flor do lácio,
a me arrastar à poesia,
a rebobinar memórias,
último refúgio que alimenta,
tal qual numa fita de Fellini,
o seio túrgido da paixão
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