1.
E naquela noite, o velho senhor deitou-se mais cedo.
E logo acercou-se uma voz íntima que chorava.
O velho quis interrogá-la, saber sua história mas, a voz não dizia, não falava… Só chorava.
O velho sentiu que deveria descobrir o que aquele choro escondia.
Acostumado, andou e andou… Atravessou oceanos, escalou montanhas, desceu através de vales e, para seu espanto, jamais saiu de diante da sua própria cama… E só então pode perceber que era de seus lábios que nascia aquela voz que chorava.
2.
Decidido a dormir, o velho senhor, naquela noite tapou os ouvidos e conseguiu alcançar um sono profundo.
E naquela condição sem sonho ouviu a voz, ouviu o choro que vinha do fundo de si mesmo.
E sem que fizesse qualquer movimento viu uma criança que nascia.
Aparou-a com suas mãos, aconchegou-a em seus braços e percebeu que ambos gemiam e souberam ali, sem que ninguém lhes dissessem, que a dor é a condição de existir. A dor é o próprio existir. E, seus olhos de criança despertaram num alegre acalanto.
3.
E o velho habitou a voz
E a voz habitava o mundo
E o velho era o mundo
E o mundo era dor
E o mundo era velho
E viu que além da dor
Além do medo
Além da noite
Havia-lhe nascido
Um poema…
O velho enfim sorriu
Qual nunca chorara antes.
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