Lágrimas de Sangre, Oswaldo Guayasamin, 1983
o que existe de poético
num cofre cheio de dinheiro…
num bilionário
a calcular uma aposta…
o que existe de espiritual
numa polpuda conta bancária?
(mesmo cínico, poeta algum
rima lucro com justiça)
um papel que vale um pedaço de empresa,
por mais valorizado que seja,
jamais soube capaz de inspirar sonetos
o que pode haver de sublime
num desumano manipulador
de cifras e percentuais?
a tragédia do regime
que se diz inspirador de propósitos
é desconsiderar a finitude da vida,
devorar-se a si mesmo, destruir o futuro
e cuspir fora as cinzas dos que sucumbem
à sua voraz e cruel frieza…
daí restar apenas lágrimas
secas, mas nascidas plenas de poesia
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