sábado, 22 de junho de 2024

por quem chora a poesia?

 

Lágrimas de Sangre, Oswaldo Guayasamin, 1983


o que existe de poético

num cofre cheio de dinheiro…

num bilionário

a calcular uma aposta…

o que existe de espiritual

numa polpuda conta bancária?


(mesmo cínico, poeta algum

rima lucro com justiça)


um papel que vale um pedaço de empresa,

por mais valorizado que seja,

jamais soube capaz de inspirar sonetos


o que pode haver de sublime

num desumano manipulador

de cifras e percentuais?


a tragédia do regime

que se diz inspirador de propósitos

é desconsiderar a finitude da vida,

devorar-se a si mesmo, destruir o futuro

e cuspir fora as cinzas dos que sucumbem

à sua voraz e cruel frieza…


daí restar apenas lágrimas

secas, mas nascidas plenas de poesia


 

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