hoje, a cidade amanheceu calma:
maré baixa, piscinas cristalinas
peixinhos, pedras e ouriços…
não ouvi sirenes
a anunciarem desconfortos e desgraças
aproveitei pra sonhar
o que mais quero neste intervalo:
te amar diante da janela
ao som inexorável do martelete buf buf
no concreto da casa ao lado
a pontuar o tesão e as batidas
dos nossos doloridos corações
vem, amor
que não há quem nos proteja
de tamanho caos
morramos soterrados pelo engenho
dos fabrishomens barulhentos
e ressuscitemos no silêncio inventado,
momentâneo
de nossas almas saciadas
alheios à cidade,
ao desejo e aos aplausos
vem amor,
que este tantinho de generosidade
faz a desdita nos esquecer…
vem, que deslembro das queixas
dos remorsos, segredos, mimos, dengos
calundus, manhas e caprichos -
trejeitos que herdei do meu pai
(fraco, topado de orgulho)
sempre pronto a revidar… vem, amor
amanhã pode não ser
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