é um fardo ser
eu que já fui fardo para minha mãe
para os meus amigos
para os meus amores
que passo boa parte do tempo
a arrastar correntes fantasmagóricas
que mesmo dificultoso
nunca me deixei ir que nem pedra
ladeira abaixo despencado
mas ao contrário sempre insisti
em empurrar morro acima
a peso de ser eu…
almejei ser pluma um dia
porém o máximo que consegui
foi esvoaçar vagabundo
feito saco plástico
tangido pela ventania
em plena praça pública
silenciosa e vazia
é um fardo ser eu
que nunca me molestei por minhas faltas
que nunca encarei as minhas falhas
que nunca ri da minha gravidade
que nunca arremessei longe a carga
e mesmo desconfortável
ainda me dou tanta importância
ainda me ufano das minhas pretensões
ainda nutro esperança de um dia virar estátua
e servir de cagadouro para pássaros
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