em meio a pandemia
– o papa caminha deserto pela praça de são pedro
em direção ao altar de sacrifício
– uma bruxa dança solitária numa praça de sant’orozo
clamando tesão às forças telúricas
– os pobres do mst distribuem toneladas de alimentos
a outros pobres das cidades
– os profissionais da saúde dormem no chão dos hospitais
exaustos de incharem estatísticas
mas nada disto funciona:
o mundo continua estúpido,
o mundo desconhece os tempos verbais além do eu
e não faz a menor ideia
de como sair da armadilha
do paradigma criado
em salas engravatadas
acondicionadas à aventura
irresponsável diante do espelho
onde faz a barba, passa rímel… narciso em si mesmo!
eis que hoje muitos irão às compras
eis que um tilt no sistema avisará em horário nobre
que tudo acabará numa coluna de sal…
mas aí cortam para os comerciais
e com a boca cheia de estupidificantes
seremos abordados pelos mercadores da fé
(os tais que matraqueiam em nome de um deus
cercado de advogados e policiais)
a nos oferecer a sobrevivência das baratas -
ora, se o comportamento único e oficial fosse a solução
as formigas, os cupins e as abelhas
seriam os soberanos do planeta…
em meio a pandemia
os danados caminham secos de lágrimas
não choram mortos, desconhecem a empatia,
apenas profanam
a linguagem, a beleza, o sagrado…
em meio a pandemia
assistimos a injúria impune dos danados -
escandaloso repúdio à vida e à consciência alheia
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