Algoritmos são de direita, de centro ou de esquerda? Existe ideologia nestas construções lógicas transformadas em tomadores de decisões nos tempos atuais?
Algoritmos: ferramentas criadas para dispensar trabalhadores, prescindir de mão de obra, evitar a burocracia, facilitar o contato direto entre desejo e mercadoria, além de terceirizar e precarizar as relações. Fonte de sucesso de aplicativos, usado e abusado pelas grandes corporações digitais no direcionamento do trafego da procura por coisas e mercadorias.
Vivemos a era da interatividade instantânea. Nunca desejo e mercadoria estiveram tão próximos. Os algoritmos criaram uma relação de conveniência que facilita a vida do consumidor ao mesmo tempo que proporcionam altos lucros a serem distribuídos entre acionistas e bonificar gostosamente uma malta de executivos anualmente.
Este é o toque de midas da indústria da informação: transformar vontade em dinheiro. Isto faz do algoritmo o grande cafetão das relações no mundo virtual. E a ideologia do cafetão é sua amoralidade, não estar nem aí para qualquer princípio ou valor que não seja sua própria satisfação.
Ao privilegiar a relação desejo satisfação, os criadores e implementadores de algoritmos não têm levado em conta aspectos éticos, sensíveis, aspectos humanos… Mas aí, diriam os pacientes, num dia de excessivo otimismo: Ora, isto é algo novo, em vias de teste, vai chegar uma hora em que tudo melhorará e teremos uma sociedade perfeitamente integrada e sem intermediários que não a lógica e a exata matemática.
Sou um sujeito inquieto, então convido vocês a fazerem comigo uma simulação: digamos que alguém deseja destruir a diversidade humana e colocar no lugar meia dúzia de troços ditados por uma entidade sobrenatural. Como se comporta o algoritmo? Não dá a mínima para os aspectos legais ou ilegais envolvidos na satisfação deste desejo. Em vez de mandar o sujeito ir para a ponte que o partiu simplesmente irá colocá-lo em contato com outros dementes da mesma laia e dar uma banana para o resto porque o que vale é saber que a ferramenta funciona e de que o recado chega redondo ao devido destinatário. E com isto nos abre as portas do hospício, onde todos os doentes mentais, nos mais variados graus de insanidade, conseguem encontrar guarida e, ainda por cima, respaldo jurídico sob a alegação de que a Democracia garante a liberdade de expressão dos facínoras.
Querem outra? Cadastrei meu apartamento em um desses aplicativos de compra e venda de imóveis. Botei lá um valor que considero justo – levando em conta o local, os arredores e as facilidades existentes no entorno… O que aconteceu? Não passa dia sem que o danadinho do algoritmo me envie um relatório onde, com base em exaustivas pesquisas (o algoritmo trabalha dia e noite, sete dias por semana, 24 horas por dia) ele informa que, para melhor me posicionar diante da concorrência, devo abaixar o preço. Pelo raciocínio lógico do mequetrefe chegará dia em que terei que pagar para alguém comprar o imóvel.
É ou não um trem do outro mundo este tal algoritmo. No fundo ele conta mesmo é com o nosso desespero. Isto me lembra o ditado: só existe malandro porque todo dia nasce um otário.
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