compro livro por impulso
em geral, após duas ou três páginas
os coloco para maturarem na estante
(a prateleira é uma vinha)
existem instantes
horas desavisadas
em que os colho
inesperadamente
a lhes sentir o cheiro
o sabor de seus títulos...
e conforme a oportunidade,
saboreio outras páginas
(mesmo que sorva o último gole
deixo-os permanecerem de pronto
para uma outra súbita degustação:
livros se regeneram)
verdade
que alguns viram vinagre
porém, mesmo azeda
uma leitura
podem vir a temperar
qualquer conversa
houve tempo em que
colegial
lia por obrigação
oh, quanto desprezo…
é que já sabia discernir entre ordem e sugestão
e isto me levava a uma proximidade afetiva
com aqueles mestres que,
de um ou outro modo, me diziam:
“tudo na vida muda, inclusive o paladar”
e o meu mudou:
hoje ofereço à alma
o acaso dos prazeres epifânicos
das descobertas imprevistas
dos achados acidentais
afinal, a revelação está em perceber
o movimento do próprio espírito
e a constatação de que
nada é estranho a si mesmo.
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