sábado, 27 de março de 2021

difícil humanidade

 

Hand of Fate, Achraf Baznani, séc.XX


não sei do amanhã

quem sabe?… aliás,

tenho medo do dia seguinte.

daí a ideia de escrever

notas urgentes

(súplicas de presença)

antes que a ausência me retire

para sempre

de perto dos meus amigos

e me jogue longe dos meus irmãos…


ah, palavras, preciso mostrar quem sou

além de toda manhã


quanto mais vivo, a cada instante,

o mecanismo de apagamento

não me quer nem morto

quer saber se desejo deletar ou não

a história, minha história...

por isto aplaino a lembrança

afio a memória

teço histórias impossíveis

e acordo todo dia

pronto para trabalhar

minha difícil e dolorida humanidade



Um comentário:

  1. É como um trabalho de Sísifo. A cada manhã, se começa novamente a mesma rotina: sobreviver para o amanhã. Gostei muito!

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