sábado, 15 de agosto de 2020

a ruga

 

Dragon Encounters Knight, Alfred Krupa, 2006




a ruga que me persegue

atinge o rosto daquele camponês

bem antes que ele invente a agricultura


a ruga que me persegue

ao contrário, anima aquele à vida

numa manhã de segunda-feira em plena pandemia…


a ruga que me persegue

me cerca na certeza

de viver num sistema perverso

(sistema que me desperta

apenas no instante de cobrar

aquilo que é incapaz de produzir)


a ruga que me persegue

percorre selvas campos cidades

a oscilar seu arbitrário pêndulo

sobre cabeças retardatárias, em doma de jugo...


a ruga que me persegue

alcança primeiro aquela moça de cabelos afro

ou de cabelos negros e lisos

talvez de cabelos cacheados ruivos verdes vermelhos...

sei lá… não sei, não lembro… lembro

que tromba comigo na esquina e severa

anuncia no olhar um justo gesto de vingança…


a ruga que me persegue

me apresenta ao grito que não dei

me leva a reconhecer que ainda sou humano

frágil e pequeno e fraco e carente e medroso

mas isto não alivia, não refresca em nada

o fato de ter que encarar essa danada herança



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