a ruga que me persegue
atinge o rosto daquele camponês
bem antes que ele invente a agricultura
a ruga que me persegue
ao contrário, anima aquele à vida
numa manhã de segunda-feira em plena pandemia…
a ruga que me persegue
me cerca na certeza
de viver num sistema perverso
(sistema que me desperta
apenas no instante de cobrar
aquilo que é incapaz de produzir)…
a ruga que me persegue
percorre selvas campos cidades
a oscilar seu arbitrário pêndulo
sobre cabeças retardatárias, em doma de jugo...
a ruga que me persegue
alcança primeiro aquela moça de cabelos afro
ou de cabelos negros e lisos
talvez de cabelos cacheados ruivos verdes vermelhos...
sei lá… não sei, não lembro… lembro
que tromba comigo na esquina e severa
anuncia no olhar um justo gesto de vingança…
a ruga que me persegue
me apresenta ao grito que não dei
me leva a reconhecer que ainda sou humano
frágil e pequeno e fraco e carente e medroso
mas isto não alivia, não refresca em nada
o fato de ter que encarar essa danada herança
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