I
primeiro venderam a alma
depois perderam a vergonha
deram uma banana pra verdade, ética, futuro
os cambaus
enfiaram a mão no nosso bolso
distribuíram entre os mais ricos e
foram à televisão dizer que patrão sofre…
II
diário oficial da união, avisa:
– abstenham de cometer desatinos
– nem se atrevam a torcer contra
– o mundo é pequeno demais para nós dois
– nunca houve nem haverá bolo a ser repartido
– trabalhe em vez de exigir direitos
– kkkkkkkkk…
III
no pesadelo em que nos encontramos enfiados
bala perdida deixou de existir
os projéteis já vêm de fábrica com nome, sobrenome
classe social, cor da pele, filiação…
e se acaso o algoritmo falhar
e o endereçado, por mágica, sobreviver
o excludente de ilicitude chega junto
para que não reste dúvida,
de que a bala foi pacificamente programada
para apagar todos os indesejáveis pontos da curva
IV
o pau comendo
e o sujeito fazendo graça
o pau comendo
e o sujeito falando merda
o pau comendo
e o sujeito fazendo festa
o pau comendo
e o sujeito criando treta…
eita sujeitinho ruim
coisa pior que a peste
V
… e quando a guerra civil fizer sua última vítima
o derradeiro demônio que sobrar
se sentará diante de um vídeo pornô
a se flagelará
heroico
por toda a eternidade, amém…
VI
A divindade
numa mistura de gozo e piedade
diante do pavio
com seu habitual hálito flamejante
sussurrará lux
e a manhã
que ainda não foi escrita
nasce
sem a pretensão de ser título
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