em meio a pandemia
o papa caminha deserto na praça de são pedro
em direção ao altar de sacrifício
uma bruxa dança solitária numa praça de salento
excitando as forças telúricas
os pobres do mst distribuem toneladas de alimentos
aos pobres das cidades
e profissionais da saúde dormem no chão dos hospitais
cansados de incharem estatísticas
com o tempus mortis de milhares…
tanta comoção não comove
o mundo continua estúpido
doloroso e tradicional
o mundo desenxerga
os tempos e as pessoas verbais
o mundo não faz a menor ideia
de como sair da encruzilhada
dos mandos e desmandos
do paradigma
do terno e gravata
irresponsavelmente aventureiro
fazendo a barba
passando rímel
enamorado de si mesmo
defronte ao espelho esculpido em gazes néon
num lapso de tempo futuro, um tilt no sistema
informa que o mundo acabará
por se tornar uma coluna de sal
e todo mundo vai às compras...
e aqui esconjuro os mercadores da fé
os comerciantes da autoajuda
os vigários do nada
matraquearem
que tudo se resolve naquele papinho particular
consigo mesmo
ou com o tal deus cercado de agentes intermediários…
e penso
se o comportamento único e oficial resolvesse
as formigas, os cupins
e as abelhas seriam soberanos do planeta…
mas o que vejo
é que os danados não possuem lágrimas
os danados não choram mortos
os danados desconhecem a compaixão
o significado da palavra consolação
solidariedade
entendem os danados
da profanação da linguagem
da beleza
e do sagrado
entendem os danados
da exaltação da própria força
afinal, fazem da vangloria
- esse escárnio -
um escandaloso repúdio à dor alheia
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