Washing Machine, Roy Lichtenstein, 1961
coloquei
roupa para lavar no programa total
(molho-lavar-enxaguar-centrifugar)
a
velha máquina chiou… mexeu
pra lá
mexeu
pra cá… ruídos estranhos
remexeram
sua
alma mecânica
– caceta
(entrei em pânico)…
desesperado
e impotente
acariciei
a superfície branca e fria
abracei-a
beijei-a
sussurrei
palavras amorosa e gentilmente sinceras:
– não
quebre, não quebre, não quebre
por
favor, não quebre… e ela não quebrou
aleluia
(nas
epifanias dons
são revelados)
foi
aí que
encontrei
sentido na minha reclusão compulsória
para
que
essa boa
obra
continue
suplico
a
vocês,
reverenciadores
e propagandistas
do
poder do pensamento positivo
sobre
a matéria bruta e insensível, please
deposite
na conta que aparece no rodapé da
página
qualquer
quantia
compatível
com
a
fé
no
meu
singelo
propósito
ajudar
indefesas
donas
de casa
(através de uma foto com boa resolução)
a
sobreviverem à
circunstância
de
ver
sua
doméstica eletrônica
finada
em
meio a uma enxaguada
em
hora tão imprevista e pandêmica
dou
graças e peço améns...
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