sábado, 4 de abril de 2020

oremos pelas máquinas de lavar


Washing Machine, Roy Lichtenstein, 1961



coloquei roupa para lavar no programa total
(molho-lavar-enxaguar-centrifugar)
a velha máquina chiou… mexeu pra lá
mexeu pra cá… ruídos estranhos
remexeram sua alma mecânica
– caceta (entrei em pânico)…

desesperado e impotente
acariciei a superfície branca e fria
abracei-a
beijei-a
sussurrei palavras amorosa e gentilmente sinceras:
– não quebre, não quebre, não quebre
por favor, não quebre… e ela não quebrou
        aleluia (nas epifanias dons são revelados)
foi aí que encontrei sentido na minha reclusão compulsória

para que essa boa obra continue
suplico a vocês, reverenciadores e propagandistas
do poder do pensamento positivo
sobre a matéria bruta e insensível, please
deposite na conta que aparece no rodapé da página
qualquer quantia compatível com a fé
no meu singelo propósito
ajudar indefesas donas de casa
(através de uma foto com boa resolução)
a sobreviverem à circunstância
de ver sua doméstica eletrônica
finada em meio a uma enxaguada
em hora tão imprevista e pandêmica
dou graças e peço améns... 



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