Pastoral, Tarsila do Amaral, 1930
vou
voltar ao passado
encontrar
um
antecedente
que
tenha
realizado qualquer
coisa de forte e positivo
de
doce e compassivo
ele,
bom de peleja, amor e viola…
quem
sabe um daqueles heróis míticos
que
faziam
o que era preciso
e
jamais guardavam remorso ou rancor
pelo
simples fato de estar
bem
com a natureza
que
nem planta, pedra ou peixe…
tipos
corajosos que não veneravam nenhum deus
porque
tal conceito, em
seu tempo, era
desconhecido
e
não havia necessidade de inventá-lo
mesmo
que
as crianças fossem
geniosas ou malcriadas
mas
se esse meu antecedente, humano
mesmo
ínfimo, possuir
o
tamanho das nuvens
a
largura do mar
a
altura do céu
tudo
farei para que caiba
perfeitamente entre os meus dedos
debaixo
do
testemunho das
estrelas
que
brilham sutis no universo
e
arrastam
meu olhar para
tal
lonjura
à
procura dele,
a
pelejar…
e se,
nessa
jornada
acaso
tope
com demônios
em
seu mais distante caos
demônios
que o
habitem
desde a origem
num
esforço de aproximação, hei de naturalizá-los,
trazê-los
à luz, torná-los
meus, nomeá-los,
civilizá-los
e
fazê-los desfilar em trabalhosa
estrofe,
esculpido
verso, suado
e sofrido poema
(e
mesmo que tomado de insegurança,
evitarei
criar os meus próprios
e
legá-los, selvagens, ao futuro…)
para que
desse
encontro
apenas
resulte
singela
nossa
brincadeira
com palavras
bendito
antídoto
à
nossa singular e complicada mortalidade
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