House over the Waterfall, Jacek Yerka, 1981
Os
primos decidiram que era hora de construírem uma casa. Após altos e baixos, culpa sem fim, medo, inveja,
mágoa, baixa
autoestima, profunda repressão sexual... me aparecem com aquela
propaganda de
que a “fé move montanhas” e
cantaram, ao pé do meu
ouvido cansado
velho de guerra, a fatídica
bola: ou estava dentro ou
levaria um pé da bunda de afundar o queixo.
Pedi
ajuda pra minha mãe. Solicitei
que baixasse numa médium conhecida
sua e mandasse um recado às
madrastas tias: “livra meu
filho desse atropelo ou me
sinto
liberada
para divulgar tudo que vocês fizeram nos verões passados”.
O jogo é duro e pesado: amor
com amor se paga.
E
lá
vai um bom tempo desde que começaram a discutir de
que tipo seria a decoração e
qual sistema de segurança é
mais adequado para
uma família classe média, moradora
de condomínio, com salário dos bons (daqueles
que permite sustentar quatro filhos dispostos a torrar
o capital, e reputação, sem
o menor constrangimento),
além
de sustentar
uma doméstica (que
é praticamente da família)
que trabalha sete dias por
semana e por
se recusar
a dormir no emprego, sob o
falso pretexto
de que tem filhos pra cuidar, pode
ser mandada pro olho da rua, por justa causa, e ainda ser processada
por perdas e danos morais.
Cara,
me divirto com os
primos. Contemplo suas
brigas e o vai e vem de suas decisões – ora assim, ora assado –
e me deleito com a
possibilidade de que acabem mesmo ficando no
mais completo
relento, acompanhados por seus fiéis
escudeiros
(que,
à boca pequena, já
deram o toque
que só estão na
jogada porque sabem que podem
cobrar na Justiça Trabalhista
uma indenização
digna de divorciada de celebridade quando o “amor” acabar. E
vai acabar).
Não
faço a menor ideia do que move os
primos. Aliás,
faço… e abomino: suas
atitudes e
opiniões fazem
a gente desejar viver ao lado
de um daqueles
traficantes
evangélicos
que se divertem incendiando
terreiro de orixás só pra manter o consumo de cocaína dentro de
padrões socialmente aceitos e
assim terem suas atividades reconhecidas como de utilidade pública.
Os
primos não são flores
para se cheirar
mas, como sou cuidadoso
com esse negócio de relações
parentais,
tenho que dar uma de migué,
fazer de conta
que estou dentro, que
compartilho de suas loucuras.
Para tanto,
aprendi
a dissimular
minhas dores
(que às vezes é interpretada
como bichice, boilagem, perobagem...) diante
da potência que os
primos fazem questão de
apregoar em todos os reality
show’s
que, à
custa de um bem empregado jeitinho,
tem feito a alegria da moçada nestes
últimos tempos à espera de um final para
esta novela metida a besta, cujo
único objetivo é manter os privilégios de sempre entre os dedos
dos manjados manipuladores.
Aqui
entre nós, os
ignóbeis primos descobriram a
fórmula de capitalizarem a
mensagem de que são uma
alternativa perfeitamente
válida pelo simples fato de
que em
tempo de
incerteza, se não se há resposta certa, a burrice conta.
Estou
fora. Que os
primos se lasquem entre as
paredes do inferno que
ergueram.
E fico por aqui, a me reservar
o direito e ser um tantinho mais cruel que eles. Atocha
qu’eles bobeiam!
Nenhum comentário:
Postar um comentário