Cartão de Ano Novo, MC Escher, 1946
cuidado
com as muletas que te apoiam
passado
o além muros
notas
dissonantes
fantasia
frágil e efêmera
pranteiam
futura melodia...
instantânea foto golpeia o ar:
cuidado
com as tábuas de salvação a 1,99
cuidado
com as fórmulas adquiridas de ambulantes
cuidado
com a roupa que vestes
com a
comida que comes
com a
vida que levas
com os
medos que embalas
com o
pastoreio de fantasmas
com a
contação de histórias para sociopatas dormirem
melhor
que vigies a ti mesmo
assim
evitarás as tentações do paraíso e as delícias do inferno
e se
algum dia te sentires emergido das tuas escuridões
pense
duas vezes antes de sacrificares a sanidade
em
nome de qualquer histeria
porque
o mundo não fará nenhum reparo à tua submissão
mesmo
que tragas antípodas de mãos dadas estampados no teu brasão
(ou
que algum dia tenhas acreditado que fumar era elegante)
serás
banhado pela saliva que goteja dos caninos
do
dono do tal arbítrio imponderável
aquele
senhor enorme, gerente de todas as virtudes
pois
isso mães, continuem a mentir; pais, ignorem as fábulas
eis
que em meio à multidão
(feira
onde é corriqueiro se comprar e vender gato por lebre)
solitárias
crianças (açuladas
por
afetos, desejos, sonhos, temores, caminhos e quimeras)
aguardam
na corda bamba
o equilíbrio reverso entre deuses e verdades
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