La Strage degli Innocenti, Giotto, 1320
porque
te chamas
paraisópolis
se
teu nome é massacre?
tu,
diariamente cuspida
xingada, pisoteada
tratada
à base de balas, bordoadas e ração
sonho
emprestado, repressão…
por que te atreves, classe, a exercitar
o negado direito à alegria?
shiu
silêncio, caluda
não
vês que amanhã é dia de branco
que
te esperam as lotações, o cartão de ponto
e
o sorriso para câmeras que aguardam e interpretam
diligentemente
o
formato do teu rosto
os
trejeitos da tua língua
a
cor da tua pele
o
corte do teu cabelo
o
cheiro da tua roupa… oh, modelo desmerecido
consumidor
ilegal de vida, não vês
que
nada tens de original, a não ser essa difamada vontade
de
seres o orgulho de alguém?
(mesmo que não haja mais nenhum
alguém
mesmo que nunca tenha havido
qualquer ninguém
que se importe com teu grito rouco
entalado na garganta
de cada um que assiste
teu sangue tingir as ruelas
irregulares
da tua indesejável existência)
oh,
absurdo modo de viver
nesse
teu paraíso infernal
sublime (por ser humano)
e triste (por ser forçado)
com
antros imemoriais comparado… pois é
assim
te justificam os que exigem tua defecção,
teu
sumiço, a dispersão dos teus átomos...
é
que eles temem pois os teus cantos
teus
assombrados becos
teus
labirintos escuros
as
fogueiras dos teus sabás
as
sombras das tuas noites de tambores
e
teus ais ancestrais
sob
os paus-de-fogo que esvoaçam
os edifícios que cintilam
e
molduram a tua clausura
olhe
bem, eis os teus,
os
teus próprios
fardados
pais, irmãos, tios, primos,
cunhados…
nauseados
furibundos
danados
com a tua inquietude
e
a temível possibilidade do teu riso, do teu gozo,
(deus
nos livre e guarde de tal ofensa)
deixar
escapar o gênio da cultura
e
torne popular e digna a tua história
oh,
paraísópolis
que
preço pagas
por
tal sonho mau
pois ao sonhares
deixaste
de perceber que és tu o sonhado
no
pesadelo do teu inimigo, teu cruel desigual
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