Fire, Francesco Clemente, 1982
o
trabalho dignifica o homem…
por
isso, em protesto, queimam o país
e
estabelecem que a Terra
é
pequena demais para tantas espécies,
que
é complicado
colocar
em marcha tamanha diversidade
eis
aí o senhor arbítrio,
livre
mercado em última instância,
gangrena
a nos expor ao cálculo
sem
que haja limite a tal vontade,
tal
fissura irresistível de poder…
de
onde surgem tais seres
de
que ventres são gerados
de
onde nos vêm tal antipatia
ao
ponto de devolvermos à Terra
apenas
lixo, desprezo e fim?
ontem
a floresta entrou em minha sala
e
fez arder em meus olhos uma história de futuro
e
enquanto uma orgia quimérica,
de
desejos entorpecidos de vícios e testosterona,
anabolizados
por mandos e desmandos,
fecundavam
de ruína a paciente Natureza
minha
mente acordou para uma antiga lição
cantada
por uma costumeira flor
que
brota em qualquer coração…
e
as palavras, dentro de mim, dobraram como sinos
diante
do crepitar da última catástrofe:
“diariamente
havia
alguém que tratava um cão
com
extrema grosseria…
um
belo dia
indiferente
o
animal
pura
e simplesmente
mordeu
o
infiel de morte”
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