sábado, 29 de junho de 2019

o melhor dos mundos


The Multiplicity of Worlds, Sergey Belik, 2014


o melhor dos mundos seria
um mundo transparente
claro
onde a ausência de deus
fosse tão patente
que a psiquê se sentiria impedida
de se esconder detrás de dissimulações

e a mentira
esse sub-produto defensivo da alma
quando anunciada
seja instantânea e literariamente flagrada
e riríamos
tomados de entusiasmo
da sua tentativa
        pueril
de forjar qualquer verdade

um mundo transparente…

onde a aparência
esse simulacro
(refúgio da obscuridade do mundo)
jamais sustente opiniões
gostos
modos privados ou profanos
nem se aventure a torná-lo sagrado
e cogite substituir o real pela farsa

num mundo transparente
não haveria moral
        (saberíamos de antemão distinguir todas as vibrações)
e ao invés de livre-arbítrio
faríamos uso do poder de edição
afinal
num mundo assim
tudo
o universo as pessoas e as coisas
estariam impregnados de coragem
que qualquer jornada seria épica
        e toda ação
automaticamente transformada em história



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