Study for Inner Improvement, Helena Almeida, 1977
dói
dói
tanto que já nem sei
se
é minha essa agonia
imagino que tanta consumição
a natureza nos pouparia
então
deve
ser um tanto de fantasia
própria
de quem tem medo de altura
que
anda sempre na faixa
que
olha para os dois lados da rua na hora de atravessar
que
se desculpa
que
pede licença pra tudo que faz na vida
que
obedece à risca o respeito ao outro
(na
igual proporção que deseja ser respeitado)
e
que quando deseja beijar alguém
costuma
se esconder nos versos de um poema…
e nessa aflição
que é do fato de existir
eis-me
aqui
numa palavra
um contumaz idiota
do
tipo que não deve
e
não pode
e
não tem porque duvidar de suas melhores intenções
do
tipo acostumado a viver
esgueirado dos lindos olhos verdes de marialva aguardados
tão culpado
tão desastrosamente condenado
mas
que ainda traz em si
em meio a este infinito desconsolo
um
mundo inteiro de futuras e possíveis alegrias
Nenhum comentário:
Postar um comentário