Project design stage for a fitness, Fernand Lager, 1935
Mandaram
a minha instrutora embora: corte de custos. Fiquei sozinho nesse
mundo mecânico de moldar e manter músculos. Estou triste. Com quem
irei trocar beijinhos, três vezes por semana?
Com
o novo instrutor é que não - eis um gritador, marcador de
movimentos, como se estivesse nalgum filme de superação –
daqueles bem piegas… Larga do meu pé, sujeito chato, chega de
mantras e exortações… 1,2,3,4… 4,3,2,1… Vamos lá!
Preciso
de mais carinho. Preciso que a Lilian volte. Porém, o sistema diz
que ela é um ponto fora da curva do lucro e portanto foi dispensada,
assim, sem dó nem piedade.
E
nós ficamos… a menina do violino, o garoto do carro branco, o
executivo de férias, a família que malha unida… solos e mudos,
sem olhar nos olhos dos outros…
Os
donos estão bem, nós é que não.
Caí
numa armadilha. Deixei de caminhar duas horas no parque da
Universidade e agora tenho que ficar levantando peso, um quilometro
distante de casa, por culpa do cardiologista da clínica de geriatria
que adquiriu controle sobre a minha vida baseado numa única
preocupação: evitar que eu baixe hospital e venha a dê despesa
pro governo.
Quero
voltar ao começo. Quando disse pra Lilian que tinha colocado uma
ponte de safena e que precisava ganhar força e ela me disse, sem que
eu perguntasse, que era casada com outra menina e estavam felizes em
busca de um novo apartamento e que eu lembrava seu pai mas que era
diferente por conta de que ele nunca aceitara seu convite de treinar
pra perder a barriga… naquela tarde bateu uma química. Logo que
chegava, vinha eu com minha saudade e ela ofertava seu sorriso doce e
a vida ficava maravilhosa por alguns minutos.
Agora
estou triste. Cada vez mais difícil fazer amigos. Temo que acabarei
sozinho, ao lado daquele instrutor meia boca, que só sabe gritar,
ser antipático e trabalhar para produzir instrumentos fortes e
burros.
Por isso tenho evitado academias. Até a de Letras tem lá seus meandros suspeitos. Gostei muito do texto! Abraços!
ResponderExcluirPS: Texto, aliás, cheio daquela ironia que faz muito bem ao coração.
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