sábado, 30 de março de 2019

a utopia jamais supera o agora



Maze, Albrecht Behmel, 2016



às vezes a sanidade me pega
tal e qual que nem se fosse a idade da razão
finalmente
decidir me presentear
com os últimos
melhores anos da minha vida

porém, nessas horas, em geral, estremeço
obcecado
por alguma ideia fixa
que me joga do outro lado do mundo
desprovido de sentido
alimentando o medo
minha insegurança certeira
em suprimir a tentativa de destravar o olho
e meter a mão na massa

e aí, meu velho
(simples e fácil compreender o próprio assombro)
esqueço de pensar que sou uma montanha
que não teme fantasmas
que sabe navegar sem desespero
pelo barulhada da estranheza humana
cozinhada em múltiplas finalidades tão solitárias...
e decido então que é hora de trabalhar
outra vez
esquecido da glória das grandes coisas
incapaz que sou
de despertar desejo nesse corpo
divino, egoísta e desatento
travestido de arte
de humor e prazer pra lá de vulgares

afinal
não há mais o que pensar
tampouco o que errar
a utopia jamais supera o agora


de sobra, recuperado
do tombo
encaro a lucidez
e reconheço em seus olhos
todos os meus caminhos



Nenhum comentário:

Postar um comentário