Fairthful Undo Death, Edward Poynter, 1865
o
moribundo
crônico
às
vezes
em sua enfermidade
é
surpreendido por um instante de saúde...
ergue-se
então
qual
um monumento orgulhoso da própria ignorância
a exibir valentia
totalmente por fora dos propósitos da
natureza...
nessas
horas
o moribundo
considera
sua cura
aparente
uma
obra de deus
(providência vingativa)
e
proclama
(do olho do furação)
viver
no melhor dos mundos
mas
é momentâneo seu conforto
para
o moribundo a tempestade não cessa: avança
e
mistura e dissolve
tudo
menos os grilhões que o acorrentam
à
matéria cruel dos seus delírios…
(eis
o mané-gostoso
nas
mãos da implacável alternância dos fatos)
digo:
mesmo que o moribundo prossiga
só
fará acentuar sua palidez
(por demais acentuada)
e
a embaraçosa incerteza de que o sangue
possa
ainda (em vão) lhe correr nas veias...
mas
o moribundo não morre
(por mais que o reneguemos)
e
qual um fantasma da sua divindade rancorosa
incapaz de livrar-se dos erros
antepassados
volta
a existência
com
a missão de incriminar e condenar
a
vida
pintemos
e cantemos irmãos, não desistamos:
eis
uma figura inapelavelmente grotesca
aquela mão velhaca
a nos conclamar piedade
mas que nos quer arrastar ao rio da
desmemória
não para a transmutação
mas para a perpetuação
da ignomínia que fez e faz sua mais
sólida reputação
incapaz que é de morrer
numa batucada de bambas
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