Montanhas, Omar Rayo, 1955
“O
que não tem conserto, consertado está”
Ibraim Al’Xazira de Saragoça
Mestre Cervejeiro, século XI
Um
filho tinha pais bastantes idosos. Embora o peso fosse considerável,
carregava-os nos ombros para onde quer que fosse. Para complicar, os
velhos levavam, cada um, uma montanha sobre a cabeça. Andar daquele
jeito tornara-se insuportável.
O
filho pediu aos pais que abandonassem aquele excesso. Os velhos
responderam que não, que estavam acostumados; que as montanhas eram
tudo que herdaram de seus antepassados e que, sem aquele peso,
ficariam tão leves a ponto de saírem à deriva pelo espaço, igual
um balão desgovernado, indo aonde o vento os levasse.
O
filho, então, procurou um homem engenhoso e falou-lhe do problema. O
perito perguntou ao velho o que mais gostaria de aproveitar na vida.
Recebeu como resposta: admirar uma bela paisagem. Ao perguntar à
velha, ela não hesitou: cuidar de um belo jardim.
O
homem habilidoso trouxe suas ferramentas e esculpiu sobre a cabeça
do velho uma linda paisagem; sobre a cabeça da velha, um primoroso
jardim. Ao fim, os dois ficaram ansiosos para contemplarem o
resultado da obra.
O
homem astuto disse que, pra isso, precisava retirá-las de sobre suas
cabeças… Os velhos relutaram mas acabaram concordando. E ficaram
tão encantados com o que viram que desceram dos ombros do filho e,
como um último favor, pediram ao artista que colocasse sobre suas
cabeças um grão da montanha correspondente, para que seus
antepassados não se sentissem ultrajados.
E
o filho daí então podia fazer suas caminhadas aliviado, afinal seu
velho pai, até o último dos seus dias, dedicou-se a admirar a linda
paisagem enquanto a velha mãe não se cansava de cuidar do belo
jardim.
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