A Ditadura Togada, Vitor Teixeira, 2016
fechem
todas as escolas
dois
e dois não somam quatro
e
o caminho mais curto entre dois pontos
é
uma encenação processual kafkiana
onde
um juízo baseado no arbítrio
projeta um labirinto pra esconder o bacanal
fechem
todas as escolas
esqueçam
os argumentos
cessem
com os debates
queimem
todos os códigos
sumam
com todos os tratados
simplesmente
porque gosto não se discute
e
a declaração individual, baseada em mera impressão
anula
por completo a doce e dura realidade
fechem
todas as escolas
porque
agora estar na posição de mando
passa
a ser prova irrefutável
da
infalibilidade do agente
desde
hoje, as partes dirigir-se-ão ao mercado
(único amalgama válido e permitido)
em
busca da própria justificação
demonstrado
está que o mérito
e
os tradicionais laços de ternura e herança
permanecem
os únicos e legítimos princípios
espirituais
na vida de qualquer um
e
a prova inconteste da superioridade moral
daquela
meia dúzia de presidentes
dos
conselhos administrativos
de
impolutas e virtuosas corporações transnacionais
fechem
todas as escolas
nasceu
o “cala a boca, professor:
porque
devo confiar no senhor,
quem
lhe deu autoridade?
pensa
bem,
ganhas
bem menos
que
o meu tio que é oficial
de
justiça
e
que conhece todo mundo
nos
escalões superiores
diga-me
agora, professor,
numa
disputa de conhecimento
quem
sabe, quem pode mais”?
fechem
todas as escolas
que
o alienista finalmente chegou
e
explicou o raciocínio: as leis
(esse
amontoado de letras mortas)
por
não acompanharem a dinâmica
das
mudanças sociais, foram substituídas
pela
lei da conveniência daquele que julga -
regra
por demais eficiente e sensível
às
oscilações cambiais do rentismo da vovó
fechem
todas as escolas
dado por encerradas todas as histórias
não
há mais necessidade de novas narrativas
principalmente,
para que jamais se diga
que
foram abertas as portas do inferno -
embora não tenha sido comprovado
pelos
redatores das novelas das nove;
e
mesmo que seja conhecida a
desfaçatez
inominável da editoria nacional;
do
rompimento total com a racionalidade
dos
agentes públicos responsáveis pela garantia
do
exercício da cidadania;
jamais
será permitido dizer, ou melhor
jamais
será verídico
que
a novíssima ordem mundial
dividiu
o mundo em colônias
(ou
capitanias - a nomenclatura pouco importa)
baseados
em súmulas e acórdãos
redigidos
nos ilustres salões
inatingíveis
e mágicos
do
Bank Central
fechem
todas as escolas
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