sábado, 16 de dezembro de 2017

coisas que não entendo


Coquetel, Oleksandr Hnylyzkyj, 2005



por que
a nação evangélica apoia o estado genocida de israel?
e os protestantes, negadores da história
(afinal vivem imersos no mito)
deram origem e seguimento ao capitalismo,
que todos compreendem ser um sistema altamente racional
na sua perversa conformidade?

da nossa parte, por que o homem cordial
cujo propósito é falar mal e apostar contra o estado
se apropria dele em proveito próprio?

agora me digam
o que isso tem a ver com o alemanha 7x1?
terça fatídica mineirão 08 julho 2014
caiu sobre o cadáver do cordial man
(e daquilo que ainda restava do seu liberalismo conservador)
uma pá de cal… naquela tarde
gilberto freyre e sergio buarque foram enterrados, nus e sem máscaras
na cova rasa do ódio e do ressentimento
cultivado pelos parasitas que cospem no prato que comem

várias coisas não entendo
e nem por isso saio por aí batendo, arrebentando…

e me chega apressado
o por quê das altas patentes que integram as forças armadas
apenas os cães raivosos, os carne-de-pescoço, mostram a cara?
onde andam os generais, almirantes e brigadeiros
boa praça, gente fina, sangue bom?
será que o nosso surrado figurino patriótico-cristão
sempre foi armadilha para engabelar otários que adoram simulações?
onde estão os herdeiros do franzino rondon
que fez o grandalhão theodore “big stick” roosevelt
comer miudinho na sua mão
e ainda esfregou-lhe na cara o caráter escravocrata
das missões evangélicas?
será que a nossa escola superior de guerra
é um caldeirão permanente de maldades
será que na inexistência de um inimigo externo
faz com que se concentre e dirija a energia guerreira
contra a própria população que juraram proteger?
e por que o legado da nossa academia
legitima esse estado de guerra interna
cujo resultado é a consolidação da maior desigualdade do planeta?

me digam
por que as hiperpessoas
(a classe dos que não têm pátria, apenas cofre em banco)
triunfam recitando o mantra sociológico do jeitinho
(o uso poderoso do nosso capital cultural, social e econômico
em beneficio da sua própria reprodução)
por que fazem de um tudo para que o circo pegue fogo?
(quem sabe aguardam torrar tranquilamente o espólio
em las vegas ou nas praias de miami
justo na horinha, em pleno apocalipse
quando todos os judeus voltarem pra casa)

se alguém souber, por favor, responda
por que, entre nós, nada se cria, tudo se avacalha
e ainda sobra gente que vai mais longe
que, além de atrapalhar e esculhambar,
não satisfeitos, acanalham a futuro, vulgarizam a vida?

e por que, meu deus
se manda uma senhora tomar no cu impunemente?
e por que não é preciso ser viado para ser sensível?
(mesmo porque o mundo está cheio de bichas trogloditas)
por que, embora exista um novo amor na praça,
nos tornamos mais primitivos a cada dia que passa?

por que, no começo, havia nietzsche
e eu tinha que alcançar o alto dessa montanha
e tomar umas e outras com o buda da alegria
e deixar que o papo role solto
e que se juntem à conversa
maiakovski, walt whitman e pessoa?
(será porque acabaria por descobrir
após tantas idas e vindas
quanto custa ser um cidadão da terra,
um terráqueo cidadão de verdade
nem indivíduo nem pessoa
um cidadão?)

desentendo muito coisa...
não sou lá muito chegado na prosa
vivo ocupado em encontrar a decência das rima
por isso não consigo evitar
que perguntas como essas
se transformem em sortilégios


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