The Time, Luc Tuymans, 1988
primeiro
negou à cara o soco...
depois,
penhorado, trabalhou o bolo
fez
render a moenda, o caldo
e
por gerações sonhou a fartura
do
pão
que
o diabo amassou
um
dia (é a lei), coisas tornam-se antieconômicas...
e
se acaso ocorra estranhar ser mandado às favas
considere
que a história não está nem aí pra migalhas
muito
menos pro desemparo
daqueles
que abdicaram de seus próprios corpos
em nome de possuir uma alma novinha em folha
nesse
dia, dia de negação, é batata tornar-se alheio
ao
passado - esse tenaz perseguidor,
detalhe
incomodo, safado e mau
que
o exigente e altivo progresso suporta e tolera
como
um mal necessário do tipo que vem pra bem
repara
que é dele (desse revirador de vontades) a mão invisível
que
maneja e estala o antigo chicote
a
mesma que surge em horário nobre, em rede nacional
a conclamar sacrifício, autoimolação
porque
agora é porreta dar-se
sem
perguntar que quem como por que
para
que não duvides do mistério que edifica e propaga
a
boa obra do senhor de todas as milícias a serviço do mercado
eis
que na praça já uma nova guloseima
necessita
pintar e bordar
na
balada das almas mansas e sedentas
do
maná que haverá de ser repartido logo mais adiante
para
que tudo pareça consumado nesse dia
porém,
cuidado, por favor, não faça
que
nem o pessoal daquela mesa ao lado
que,
cheios de malícia, a cada rodada de apostas,
elevam
as esperanças de se cumpram carcomidas profecias
repara,
mesmo
que a ministra, num ato discricionário,
antecipe
o feriado do sábado para a quinta
não
haverá pra você fim de semana prolongado
mesmo
porque talvez ainda tenhas uma chance
quem
sabe não é chegada a hora de, finalmente,
entrar
para uma escola de arte
e
descobrir como passar uma bela rasteira
nessa
perversa e ridícula companhia
apenas
pelo singelo e sagrado prazer
de
vê-la cair de bunda num trivial pastelão
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