City, Rene Portocarrero, 1954
ao
Paulo Renault,
poeta
que me mostrou a cidade
um
dia acordei
em
uma cidade estranha
uma
cidade diversa
daquela
inocente que eu trazia na memória
cidade-casulo
rompida antes da hora
pseudo
borboleta
perdida
nos descaminhos
do
descuido
do
desleixo
do
alheamento
da
deslembrança...
e
ao percorrer a geografia dessa desmemória
descobri
o limite da minha cidade-mente
miúda
e frágil
sitiada
por tantos desejos gastos
amontoada
entre as coisas sem conserto
a
progredir em
ausência e
morte
e
não tive escolha senão recolher os teus pedaços
e
no meu peito
e
nas minhas lágrimas perfumadas
recompor
tua semente em frangalhos
ah,
cidade-síntese
outra
vez nascida em mim
cidade-alma
sentido
recuperado do poema
canção
revivida que habita meu coração
se
me aflige beber teu mel
misturado
ao fel fabricado pelo equivoco humano
preciso
que resistas em mim
te
imploro
sustenta
em mim
e
que te salve os meus mais doces pensamentos
ah,
cidade-espelho
trago-te
nas minhas pequenas e celejadas mãos
a
contemplar teus baixios e tuas alturas
e
teu histórico de maus tratos
em
busca que cesse em mim
a
vertigem dos tolos e a descaso dos ingratos
e
se floresço no teu reflexo
é
que o meu alento foi alimentado
não
pela vaidade
mas
pelo singelo desejo de passear descalço
por
tuas ruas futuras
antes
que seja tarde
e
a jornada castigue
implacável
meus
pés adultos e cansados
Belíssimo poema!
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