Mother and Child, Honore Daumier, 1865
minha pátria
rude e hostil
é uma fantasia
conservada em gestos e palavras
que tanto aviltam o poema
mas não sabe que é quimera
esse fantasma indelicado que é a minha pátria
e como assombração
só descobrirá o quanto pesa sua nutrida ilusão
quando o delírio da prole cavalgar um vento
expresso em verso em alguma língua morta
ah, minha pátria, essa dona
não faz ideia
do quanto atordoa
esse seu vocabulário
de patroa
e os desfazimentos dos meus rastros
e as insídias ao meu cansaço?
oh, minha pátria intermitente
sempre útil e desamada
que abomina o meu compasso
pátria minha, bonitinha
tão novinha, tão fresquinha
e tão ordinariamente postergada
sabes de que são feitas essas mãos calejadas
que tanto te fatigam?
e esse engatinhar claudicante
que tanto te entoja?
e esses sonhos destinados à inconstância...
tens ideia de que matéria é feita a nauséa
que habita tua bem-aventurança decantada
decretada pela síndrome de Estocolmo?
dorme, pátria minha, dorme
inimiga minha
dorme, minha chama
antes que acordes o dia
e soberana
ateie fogo na casa
e nos imponha
dançar
abraçados aos teus dramas
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