Pintura em Espelho, Michelangelo Pistoletto, 1962
primeiro
me
achas estranho
esquisito
diz
não aos meus argumentos
e
coisa e tal
depois,
ao perceber que insisto,
me
deprecias
transforma-me
em coisa, monstro
e
propagas a ideia
de
que sou a imundície do mundo
o
lixo da vida
a
negação da história
mas,
enfim
nada
disso é sobre mim...
tudo
é sobre você, não é mesmo?
… quando
tiveres esgotado o verbo
e,
irado, exibires baionetas
fuzis
granadas obuzes
vírus
doenças
gazes
mortais...
quando
incitares teus cães
tuas
hordas
a
limparem a terra
com
as minhas entranhas
creio
que
para o sangue
a
coagular sobre as calçadas
mesmo
que por um breve instante
olharás
e
descobrirás, disforme,
que
quebraste mais um espelho
e
aí
(lamento
que tenhas chegado a esse ponto)
aí
não haverá mais a quem resistir
e
será inútil chorar
o
motivo de teres
sete
sobre sete
esse
aguilhão
a
corromper teu olhar
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