Cidade, Claudio Tozzi, 1984
A garota do site pornô não mora da
minha rua
Nunca a vi mais gorda
Não faço ideia do seu nome
Quem são seus pais
Quantos irmãos sustenta
Quais sonhos verdadeiros
Persistem em sua cabecinha…
(São tão remotas as chances
Dessa sacerdotisa me frustrar,
Ou mesmo constranger-me,
Que ergo um altar
À nossa efêmera felicidade)
Nessa cidade epidêmica
Cuja cura é desertar
Não há nada de novo no front,
Avisa a acusação contínua e
contígua...
E mesmo que se comprove
A legitimidade da oculta inocência
Jamais se falará que vem ao caso
Pois não é costume, no reino oficial
Da divindade fomentadora da discórdia,
Legalizar o dissenso.
Mas eis que um vizinho esbarra comigo
na calçada
Entre um atraso coletivo e outro:
Quer me falar a propósito
Da finalidade das coisas, essa
impropriedade,
Justo para quem abomina iniciações
E que não encontra outro meio
Senão considerar o circulo a mais
perfeita criatura.
Ouço-o falar tanto, sobre tudo, esse
loquaz
Cospe-me na cara opiniões sumárias
Breves epílogos, esboços desengrandecidos
Que vexa-me devolver-lhe a munganga
Aceito ficar sem saber o que falar,
sem ter o que dizer
Sem ter o que mandar na real…
Afinal,
Qualquer
coisa que dissesse seria mais uma
Receita
comumente utilizada
para naturalizar
desprezadores.
Corro para casa
Ao
encontro da
garota do site pornô
Que, por não morar na minha rua,
Jamais
me envergonhará com
pornografia.
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