O Uso da Palavra, Rene Magritte, 1936
Não
há como saber qual palavra brotará de um rabisco.
Nada
é de antemão, uma letra leva à outra e… Sei,
Sou
um afortunado, dentre tantas possibilidades
Eis-me
aqui a experimentar o mistério manifesto da Vida
E
deveria me dar por satisfeito por essa epifania.
Porém,
não é o que acontece: palavras me ocultam
E
isso não é legal de dizer, porque
Não
é bom ficar na tua sombra, meu bem
E
se você não vem, se você desistir ou não conseguir
Ou
se simplesmente você não existir?
Plano
B é remexer cuidadoso em páginas manchadas de periódicos
No
enfrentamento de entrelinhas, fonemas, sílabas,
Sintaxe
de orações, signos e significados
E
a casca de banana semântica da semiótica
Desconsoladamente
safada
No
ponto de vista do especialista.
Costumeiro,
desejo nascer e nascer e nascer
Fazer
aniversário todo dia e todo dia me despedir
Até
compreender que antes de partir é preciso voltar
Para
depois de amanhã, quando finalmente houver
Desaparecido
o motivo para pensar demais em ti.
E
aí, inocente, quem sabe, consiga deslembrar palavras, as tais
Que
se mal ou benditas retornam sempre
Ao
torvelinho que as agita… Sim, as palavras não deveriam causar
No
entanto, ao me propor essa jornada
Invade-me
aquela sensação de foto desfocada de poucas lembranças
Onde, cheio de segredos e amedrontado com o futuro
Desejo apenas esquecer o tempo
Antes que me atinja a morte, o maior dos desenganos.
Parabéns um texto excelente
ResponderExcluirE a palavra continua sendo esta enganadora em que depositamos todas as nossas esperanças. Beleza de poema!
ResponderExcluir😍😍 Parabéns pelas belas linhas...
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