Pórtico do Museu de São Petersburgo
Entrada Histórica
Dois
humanos se encontraram diante de uma cerrada névoa. No ponto que
estavam não se enxergava um palmo adiante do nariz.
Um
deles sugeriu subir nos ombros do outro para ver se conseguiria
avistar o horizonte e que depois trocariam de posição. O primeiro
concordou e o segundo subiu em suas costas e lá se estabeleceu.
Por
vezes, o primeiro tentou saber o que se passava acima da sua cabeça
e o segundo respondia que logo desceria; que logo o outro subiria
para ver com os próprios olhos o que tinha para ver; que aguardasse
mais um pouco; que logo seria a vez dele usufruir das maravilhas que
lá em cima se projetava.
E
o tempo passou, e a medida que o tempo passava o segundo construiu
sob os ombros do primeiro, uma casa, depois uma rua, depois uma
cidade, depois um país, depois uma nação e assim foi até
construir uma cultura com todos as benesses e mazelas que o engenho
pode oferecer; além disso, casou-se, multiplicou-se, legando a seus
filhos o nobre encargo de prosseguiram com a edificação da Obra.
E
o primeiro sempre a perguntar quando trocariam de posição e sempre
recebia como resposta que tivesse paciência; que esperasse um pouco
mais; que havia ainda alguns retoques, alguns ajustes, que logo, logo
poderia subir e completar aquilo que havia ajudado a criar. Que se
orgulhasse disso, a posteridade lhe seria grata.
O
primeiro também casou-se, multiplicou-se e os seus filhos não
tiveram alternativa senão seguir o pai, colocando seus ombros a
serviço da Construção.
Com
o tempo, aquilo se tornou normal, virou tradição. Havia os de baixo
que sofriam e os de cima que usufruíam e ninguém sabia explicar
porque as coisas eram daquele jeito.
Um
dia, o primeiro, acabado, gritou basta. Disse que não dava mais, que
dali pra frente o segundo procurasse outro para sustentar aquela
excrecência.
Lá
do alto, o segundo, irritado, bradou: Não podes desistir, humano sem
compaixão. Se deixares de sustentar a Obra, todo o nosso esforço
terá sido em vão. É isso mesmo que queres, destruir a Civilização?
E
o primeiro não aguentando mais, deixou que seus ossos fossem
transformados em coluna de sustentação para mais uma área em
desenvolvimento.
Moral
da história: O interesse é a mãe da justiça.
Bem por aí mesmo! Há sempre os que se prestam a sustentar.
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