The mysteries of the horizon, Rene Magritte, 1955
"Todo o meu sangue
raiva por asas”
Alberto Caeiros, Ode
Marítima
Está difícil o
horizonte alcançar o outro lado da rua
Pouco provável que
ultrapasse essa calçada estreita…
Se prestar atenção
nesta indigência partiu sanidade.
A impostura, o
descarado manto da vulgaridade,
O costumeiro medo e a
comezinha ignorância,
Têm-nos reproduzido em
suspiradas prestações.
De tanto agonizar a
crise dita os proclamas
E o suicídio político
não nos deixa escolha:
Ainda existe demanda
para o vírus de ponta
E danem-se os custos de
centenárias sequelas.
Haverá alguém que
passe batido diante da antivida apregoada
Pelos zeladores da
conduta alheia por suposto mandato divino;
Haverá alguém que se
engane com a esperteza desses cínicos
A proclamarem acordos,
pactos, coligações, alianças e negociatas,
Diante da nossa
extravagante necessidade de sermos pilhados;
Existirá alguém que
gargalhe diante da imbecilidade ilimitada
E esse jeito
desgovernado de conduzir as coisas…? Impossibilitado amanhã!
É que somos
superficiais e nos orgulhamos disto. – É nossa virtude.
Mas, aí de nós,
quando arrotamos profundidade no supermercado das almas
Viramos piolhos,
lêndeas irredutíveis em tingidos fiapos de cabelos
A imaginar quanto de
vômito ainda descerá por nossas goelas
Antes que preparemos o
sacrossanto churrasco do fim de semana embalado a vácuo.
Perdoem-me: É que
adoeço ao ouvir bater à porta o celebrado ex-futuro.
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