sábado, 3 de outubro de 2015

Má Digestão


Um Retrato e um Sonho, Jackson Pollock, 1953


O empresário pensa no lucro
O político no poder
O religioso no pecado
E a donzela no amado…
Eu? Morro de medo de fantasmas.

Debato-me nessa dança de heranças – fruto de pilhagens.
Em meio a música, álcool, sexo e um orgulho pançudo –
Tesão de eunucos a produzir mão de obra
Que vivem pela fome, pela guerra, pela fuga,
Pelo medo da impossibilidade demonstrada de uma existência melhor.
Fazem-se por si mesmos, abarrotados de expedientes, pois
Aprendem a querer antes de pensar
A ter antes de falar
A seduzir antes de ver…

Por favor, não olhem agora mas,
O erro não nasce da ingenuidade, do desespero ou da ignorância
O cometimento de infrações, quando não de crimes,
É um desafio deliberado, uma presunção.
Esta imoralidade perpetua-se como autoridade:
Nossa mais eficiente expressão de poder.

Somos belos, senhoras e senhores,
Nascidos belos somos todos…
Vicio são as roupas, os adereços, os adornos
Tudo que acrescentamos à pele,
O que nos personaliza, o que nos torna pessoais,
O que nos distingue nos infama.

O poeta, filho de mãe solteira, usufrui de si
Eis sua arte, sua potência, sua perfeição…
No convento aprendeu a mentir e tarde descobriu
Que havia se tornado uma mulher redondamente estéril.
Ao atear fogo às vestes, restou-lhe estranha sensação de inutilidade. 


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