Dacay, Louis Cifer, 2008
Que direito eles têm de
estragar os tomates, os morangos?
Derrubar as árvores
desse lugar que era tão bonito?
Sinto-me enxotado.
Camilo Vergara, fotógrafo
Rugas lhe destoam a face
Faltam dentes no insuspeito riso
Lábios carnudos, acerbo hálito
Reclamam coaguladas lágrimas
Presas no escuro de arruinados olhos
Pupilas impertinentes, vão e vêm
Refém de dessabidos acordes
Eis uma canção incerta, descuidada
Potentes seios – vítimas ao acaso –
Contrastam com resguardados desejos
Língua nervosa desenha metafísicas
Nos acidentes do corpo
dissonante
Dissimulados, segredos e dores
Bordejam desatinada tormenta
– Fora, fora…
Deixe-me cair.
Acaricio seus contrafeitos ombros
E inoportuno convoco a partida
Num recuo aponta-me o dedo esquecido
Da fatia de pão no piso encardido e
sujo…
Ao beijar-lhe o rosto
Alimento o sonho de redimi-la
Entrelaço nossas mãos e rumamos
Ela e eu nesta rua invisíveis.
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