The Monster
Odilon Redon (1840-1916)
A um menino bonito
ofereço o trono do mundo.
Dalton Trevisan
Boa Noite,
Senhor
Vivia de sono perdido.
Desde tempos.
Angústia viscosa.
Acostumado atravessar longas noites de lá pra cá, de cá pra lá…
Vez por outra, tomado de
assalto no meio de uma cochilo, escorria ao encontro de buraco negro.
Desassossego pensar em
dormir. Nossos monstros são nossa miséria.
Uma noite, tarde da
noite, decidiu correr em busca das lembranças e antes que uma luz
brotasse, realizara o penoso trabalho de separar fantasias de fatos.
Descobriu o elemento, o motivo. Tinha em mãos o fio da meada.
O homem quer vingança. O
menino deseja sangue, muito sangue. Baba de lesma em dente de ouro. A
alma vaga ganha corpo.
Havia de ser rápido. Não
haveria apelação no seu tribunal sumário. Para complicar o enredo, também
ele em julgamento. Seu único medo: Matando-o, mataria também a si
mesmo? Correria o risco.
– Eu era fraco da
cabeça, invejoso. Acabei preso, arrombado dia e noite na cadeia,
virei mulherzinha de gangue, comi merda, bebi catarro, caguei sangue,
vomitei toda bondade e nada nem ninguém me salvou. Mas te deixei
escapar e agora, por onde passo, sinto os olhos dos santos e dos
anjos cravados em mim. Como é possível, santos e anjos são
incapazes de ódio e no entanto, seus olhos me ferem. (…) Causei-te
mal? Fui até decente contigo. Grandinho, podia ter gritado, corrido…
Mas não… Posso dizer que foi consensual? (…) Morto, que mais
direi? Queres o que? Profanar meu túmulo, moer meus ossos,
misturá-los à urina sarnenta de um cão? Adiantaria? Escapaste,
esta é a verdade. Pense na possibilidade de tê-lo amado… O que me
inocentaria? Naturalizar-me? (…) Diante da sanha dos tormentos,
naqueles porões famintos, não tive como provar nem uma coisa nem
outra. Agora, tens a chance de nos redimir.
Cinco tiros. Um corpo. E
o paralisado menino com medo de partir.
Das sombras, emergem
mulher e menina.
– Nossa vez, diz ela.
Jamais dormira.
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