A Sepherd Playing Flute
Henryk Siemiradzki, 1897
Não, não preciso que os
deuses venham em meu socorro
Já sou possuído por
tudo que aprendi com eles.
Se não falo diretamente
a nenhum
É que sei, aguardam que
eu consiga caminhar
Sem que os obrigue a
retribuir-me as raras visitas
Que fiz ao Olimpo que
eles me legaram.
Não, meus embates não
são com eles
Não sinto necessidade
nenhuma de confrontá-los
Muito menos questionar
seus inumeráveis atributos
Que os sei fruto do nosso
infinito desemparo
E da nossa abissal pequenez
diante da imensidão dos mundos.
Por isso, tenho por vós,
meus deuses, o meu melhor apreço e acredito
Que os torno felizes com
a simples lembrança
Que vez por outra faço a
qualquer um dos vossos sagrados nomes.
Quem sou eu pra vos negar
ou duvidar
Com meus pensamentos,
palavras ou ações,
Quem sou eu para macular
a vossa santidade,
Se não viveis dos meus
rituais nem das minhas orações
Mas do brilho da centelha
que habita em mim?
Como pais e mães que
sois, sei o quanto sofrem
O quanto se sentem
levados a nos aplicarem corretivos periódicos
Por nossas lamúrias, por
nossos intermináveis e injustificáveis choros,
Nossa viciosa
autopiedade, nossa recorrente tendência à vitimização,
Nossa incapacidade de
pensar com a própria cabeça ou andar com as próprias pernas
A dor e a agonia com que
costumamos chantagear vossa infinita graça,
Que compreendo o porquê
da distância que fazeis questão manter entre nós.
Dizem os mais velhos, que
os pais são responsáveis pelos filhos até certa idade
Aquela idade onde ainda
não aconteceu manifesto o próprio mestre -
Aquela tomada de
consciência por parte da criança da sua imortalidade,
Da longa jornada
percorrida até então e do caminho colocado à frente.
Qual pai e mãe, por mais
protetores que sejam,
Não gostariam de ver
seus filhos aptos, fortes e dedicados
À tarefa inescapável do
aprimoramento vital?
Que melhor tributo
mereceis vós, progenitores,
Senão o de se deleitarem
com a energia
Que emana dos nossos
feitos e da nossa gratidão?
Portanto, silêncio, os
deuses desejam apreciar nossa arte.
E sentir o doce aroma da
nossa construída beleza.
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